quarta-feira, 7 de julho de 2010

Nós ainda estamos nos divertindo?



Talvez não mais seja uma questão de mudar os detalhes, mas quem sabe o ator principal. Talvez o problema não seja o cenário, não sejam os figurantes. Talvez seja o roteiro, mas eu acho muito mais provável que o ator esteja com problemas. Quem sabe ele não saiba mais se o papel que desempenha está funcionando, talvez ele não saiba mais se ele é o ator ou se ele é o real fingindo ser um ator. Talvez ele queira agrados, aplausos, mas como pode ele ser aclamado se nem ele sabe o que está fazendo? Talvez um dia ele tenha sido uma criança inocente que tinha sonhos e ilusões. Talvez ele tenha sido fraco e não tenha conseguido aceitar seu chão esburacado e o céu despedaçado. Talvez ele seja medíocre porque não admite cair. Talvez ele precise urgentemente interpretar um outro papel, mais convincente, real. Talvez esse papel seja sua própria vida.

Quem sabe seus medos e seus ascos o dominam invariavelmente. A hipocrisia contamina seu sangue enquanto mentiras e impressionismos que ele não precisa vão tomando sua mente. "Só uma" ele diz "para tentar ser mais presente". Mas talvez sua ânsia por ser notado, por ser valorizado e por não ser pisado faça-o esquecer que ele é o roteirista da peça que encena. Talvez ele precise identificar quem vale a pena. Talvez seja a hora desse ator abaixar a cabeça, reconhecer que não pode ser louvado pelo papel que cumpre, mas pela pessoa que é. Talvez a maior vergonha seja a maior humildade e a melhor chance dele ser reconhecido pelo que fez.

Talvez. Só se pode ter certeza tentando. O ator deve recolher-se aos bastidores.