domingo, 31 de janeiro de 2010

Tonight's gonna be a good night



É... A vida de ninguém é fácil. Todos enfrentamos problemas, e sempre temos a sensação de que os nossos são os piores do mundo. Podem haver pessoas morrendo ao nosso redor, o chão pode tremer no Haiti e o mundo pode parecer que nunca vai se salvar, mas os nossos são sempre os piores problemas. Egoísmo? Duvido muito. Somos seres supersensíveis e muito sonhadores. Todos queremos um bom emprego, uma boa estabilidade financeira, uma viagem para Europa e um labrador. Mas quando as contas chegam no fim do mês, quando o telefone é cortado, quando roubam o som do nosso carro, o céu cai em cima das nossas cabeças, percebemos como esses sonhos são distantes, como são efêmeros perante o rio enfurecido que é a vida.

Isso nos joga pra baixo. Levamos dias pra construir um bom humor, pra acreditar que tudo pode ser melhor. E então, do nada, como num passe de mágico, somos esmagados pela vida. E pra onde vai a felicidade, a esperança, pra onde vai o resto do mundo? Pra puta que pariu. Desculpem o linguajar, mas é ou não é? A última coisa que queremos quando falta dinheiro pro supermercado e saber se os oficiais da ONU morreram no Haiti, se o Obama fez merda ou se o Irã arrumou tumulto de novo. E o pior de tudo é que os nossos amigos e os nossos familiares nos falam de suas tristezas, de seus problemas e introspectivamente falando nós temos a certeza de que os problemas deles são sim imensamente piores do que os nossos, mas nós nunca deixamos isso transparecer. E aí choramos pelos cantos, xingamos, chutamos a cadeira, derrubamos o computador da mesa, desejamos a morte de muita gente. E tudo passa. Tudo sempre vai passar. Porque como eu disse antes, a vida é como um rio. E as águas desse rio vão um dia ir pra outro lugar, que pode ser uma linda clareira campestre ou um bosque mal-assombrado.

Pra que chorar? Quando a morte chega e bate a nossa porta, levando algum ente querido, o que nós mais desejamos? Que ela leve a nós, e não aquela pessoa especial. Mas não será assim. Não adianta chorar, gritar, sentir o coração quebrar. Não adianta entrar em depressão, não adianta cortar os pulsos, não adianta beber, fumar, transar. Nada disso vai aliviar a dor, nada disso nos fará esquecer. Tudo só trará mais e mais problemas piores. Uma bola de neve, eu diria. Vamos sorrir. Não estou dizendo pra sairmos rindo quando formos despejados de casa por falta de pagamento, mas estou dizendo pra não nos arrastarmos pelo inferno. A vida é uma só! Se ficarmos um mês chorando a morte do cachorro nós não vamos aproveitar aquele mês com as alegrias que a vida proporciona. E que alegrias são essas? As coisas pequenas! Sente no jardim e veja uma flor. Observe sua simplicidade, sua forma tão bela... Observe ainda que ela é um organismo vivo e tente imaginar essa vida vegetal na sua frente. Ou pense numa piada imbecil sem graça, mas que te faz ter vontade de rir. Deite no sol, escute o som da água do chuveiro enquanto toma banho, respire fundo... Caminhe ao pôr-do-sol, coma chocolate, aprenda alguma coisa nova, faça rafting, compre um papagaio, guarde dinheiro pra viajar pra serra. Mas não deixe as areias do desespero e do desamparo te absorverem.

Todos vamos sofrer, todos vamos chorar e todos vamos morrer. Não vamos fazer de nossas vidas cruéis e eternos calvários. Não vamos esquecer dos problemas e nem da dor, claro, mas vamos triunfar sobre eles. Vamos buscar o sol. A vida está difícil? Vai melhorar. Mas pra isso, você tem que querer e você tem que viver a vida. Porque quando você morrer, não vai mais poder fazer isso. Aproveite. Faça de cada dia e de cada noite momentos bons.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Sobre o tempo

Estava eu, dado dia deste verão, enfurnado em casa em meio a um devaneio profundo. Refletia eu a respeito do tempo e de seu estilo tão paradoxal. Se formos pensar mesmo, esta entidade abstrata e inexistente que chamamos de tempo é na verdade uma invenção dos homens para justificar sua existência, para marcar sua passagem. Para não enlouquecerem. Mas será que dá certo mesmo? Vivemos num mundo globalizado e controlado pelos longos braços do capitalismo. A lentidão é um luxo ao qual não podemos ceder, ou seremos esmagados pela multidão que fervorosamente corre pelas ruas da cidade. Nossa cultura não nos dá mais tempo para pensar. Somos robôs, marionetes de algo que sequer tem fundamentação física.

Temos em nossa mente os horários. Ah, os malditos horários. Temos de sair de casa tal hora, chegar duas horas depois e neste intervalo fazer milhões de coisa com eficiência. Quando vamos parar, mandar o relógio para aquele lugar de difícil acesso, e sentar? É, sentar. Não é difícil, eu garanto. É só largar-se em uma superfície suficientemente cômoda. Aí é só botar uma música (hoje em dia, quem não tem mp4?) e fazer aquele momento do eu comigo mesmo e só. Este momento de perder o olhar no horizonte enquanto se desliga do mundo exterior é o que chamamos de vegetar. Então, venho fazer um convite. Vamos vegetar. Vai ser bom por os miolos em ordem.

Devemos nos lembrar que quem criou o tempo fomos nós. E não ele.