terça-feira, 13 de agosto de 2013

Vende-se um cérebro

O preço cobrado é a felicidade. Interessados, favor entrar em contato. Não me interessa o uso que será feito do produto após ser adquirido, e não há margem para devolução. Grato.

Digo isso porque, sinceramente: eu queria ser burro. Eu queria ser mais alienado do que eu atualmente sou. Ah, como é bom viver na ignorância. Ver novela, ver Big Brother, comer no fast food, ouvir qualquer coisa, gostar de todo mundo, aceitar qualquer coisa que passe pela sua vida sem reclamar... Nada disso é plenamente possível e aproveitável quando você tem um parasita nervoso fincado no interior da sua caixa craniana. Se eu fosse burro, eu certamente seria 100% mais feliz, realizado e eu provavelmente me sentiria muito mais vivo. Porque pensar é sinônimo de ver tudo que não condiz com o senso comum; de detectar os defeitos das pessoas que você queria poder cegamente amar; de não se contentar com um livro, música ou programa de TV só porque ele é "legalzinho".

Às vezes eu fico pensando se as pessoas que não pensam têm consciência do quão felizes elas são. Deve ser tão bom ser programado para funcionar de uma maneira e funcionar daquele jeito pelo resto da vida, sem questionar, sem pensar, sem argumentar.

É isso aí. Não tem nenhuma lição de moral sobre o intelecto humano ou qualquer coisa nesse sentido. É só um comentário, um desejo. Eu queria ser burro.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

"Um" não é um numeral válido

Segundo o moderníssimo dicionário de expressões populares, "solteiro" virou um sinônimo para "ser humano triste, com auto-estima baixa, incapaz de exercer quaisquer funções consideradas verdadeiramente humanas". É fascinante como as pessoas enfiaram nas suas cabeças que uma pessoa sozinha é uma espécie de entidade que sofre de algum vírus doentio e terrivelmente infeccioso que precisa ser combatido a todas as custas. A sociedade contemporânea adicionou ao seu padrão de normalidade aceitável o termo "em um relacionamento sério", que muitas vezes, convenhamos, de sério só tem o nome. O fato é que não é de ontem que se nota uma crescente onda de relacionamentos, detectável com maior notoriedade nas redes sociais. Pois, afinal de contas, mudar um status de relacionamento e postar um milhão de fotos com sua "alma gêmea" é tão fundamental quanto tomar o café da manhã ou puxar ar para os pulmões. Pelo menos para muita gente, é assim que funciona. Não me entendam mal. Não estou condenando os namorados. Já falei uma vez sobre a banalização do amor aqui, e agora volto a tocar no assunto. Acho admiráveis os casais que se encontram pelo acaso e vivem uma rotina de apaixonados por anos. Conheço alguns (e só alguns!) exemplos bem-sucedidos de casais que combinam tanto um com o outro que chega a ser quase incabível vê-los separados. Um encontro desses deveria, em tese, ser celebrado aos ventos com chuvas de fotos e declarações melosas no Facebook da vida, right? Wrong. Os casais que uso de exemplo aqui raramente são vistos com estas "pieguices". E, na opinião deste solteirão rancoroso, a única explicação é que o amor não precisa que você esfregue na cara dos seus 367 amigos que você anda pegando alguém. Claro, tem gente que realmente gosta desse tipo de coisa. Mas sabemos que não é assim que a coisa funciona. A necessidade das pessoas de divulgar ao vento que estão em um relacionamento, a "melosidade" dos relacionamentos e o excesso de um pseudo-romantismo exacerbado e extremamente forçado me levam a crer que vivemos em um mundo aonde não é mais válido estar sozinho, na sua. Nem os solteiros escapam disso. Todo mundo tem aquela amiga solteira que adora sair por aí pra distribuir saliva por uns quatro homens diferentes. Na mesma noite, evidentemente. Não me cabe julgar, mas eu simplesmente não consigo ficar quieto perante uma situação dessas. Será que o sozinho é realmente uma escória da sociedade? Por que a ampla maioria da sociedade tem uma necessidade patológica de estar em um constante relacionamento sem amor? É provável que isto seja um desabafo melodramático de um sentimental não conformado com o andamento da sua vida amorosa. Mas temo que não. Apesar de solteiro, ainda consigo raciocinar. (Embora muita gente acredite que seja surpreendente o fato de que, nessa condição, eu ainda encontre motivos pra tocar a vida).

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Um cala-boca ao pseudo-culturalismo


Época de Big Brother no ar, época de férias, época de mais uma epopeia sobre o pseudo-culturalismo. É impressionante a quantidade de gente que surge nos três primeiros meses do ano disposta a criticar um programa de TV, um comentário de um famoso, uma novela, um padrão de beleza... O que acontece com essa gente no resto do ano? Eu lhes digo: mergulham nos seus mundos fúteis de acomodação e materialismos. Tem muita gente por aí - e tem mesmo - que tem sim sobriedade e dignidade pra abrir a boca e apontar, se revoltar, porque tem gente sim que tem cultura e embasamento pra criar uma argumentação. Mas é patética a quantidade colossal de gente que acha que tem capacidade de criticar algum padrão comportamental ou algo nesse sentido.

Estou falando de cultura. Pra que perder tempo com coisinhas bobas que passam na TV quando você pode se preocupar com os políticos usurpando o teu dinheiro, com o glorioso Homo sapiens degradando o meio em que vive, com as pessoas morrendo nas guerras imprestáveis pelo mundo, com o preconceito crescente na sociedade, com a alienação podre gerada pela Igreja católica? Então, se algum dia quiseres pagar de crítico e sabichão que acha que tem formação pra abrir a boca pra alguma coisa, vá primeiro argumentar sobre coisas que valham a pena, antes de me aparecer com teorias conspiratórias toscas.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Linhas sobre o amor


Você a vê descer a rua de mãos dadas com um qualquer. A vê duas semanas depois com outro, enquanto comenta com uma amiga que está interessada em ficar com o namorado de fulana. Um mês depois do acontecido você a vê se lamentar sobre o amor, pregar sobre a fidelidade, propagar mensagens tolas de falsos romantismos em meio a ouvintes mais tolos do que ela. Vivemos hoje num mundo aonde todo mundo acha que tem autoridade pra falar de amor, que todo mundo acha que é um mar de rosas que termina em "eu te desejo o melhor" e "se Deus te tirou da minha vida foi porque tem algo melhor vindo aí". As pessoas trocam de amor como trocam de roupas, como se tirassem alguma impureza das mãos sujas agora enxaguadas com sentimentos draconianos. Mas quantas destas pessoas podem mesmo erguer a mão e falar que sabem o que é o amor? Poucas. Resultado nulo. Talvez - e com isso entenda-se "muito provavelmente" - sequer este que vos escreve possa falar neste assunto.

Mas o que quero dizer é que amar é mais do que segurar mãos. É mais do que publicar fotos de pôr-do-Sol no Facebook enquanto troca beijos com seu amado. É mais que meia-duzia de depoimentos no Orkut. É mais do que cuidar, do que dizer "Eu te amo" (que, convenhamos, está tão banal hoje em dia), do que dar presentes, do que namorar. Amar transcende a própria razão, a qual condiciona todos estes gestos supracitados. Porque o amor não precisa de razão. Pra falar a verdade, ele precisa é da falta de razão. Ele só precisa de uma mente esperançosa, desejosa e suficientemente tola para cair na sua armadilha. Amor não se troca de semana em semana, e aquele último namorado que a sua vizinha teve provavelmente não significou muita coisa pra ela. Porque amar deixa marcas. Que nem sempre o tempo retira. Mas eu acho que, acima de tudo, amar pressupõe uma ingenuidade risível e uma incapacidade de se tocar no assunto com outra pessoa. Porque amar nada mais é do que se entregar à vergonha de aceitar que existe sim alguém que é capaz, voluntariamente ou não, de te tirar do sério.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Por que os outros não se fodem?



E que se foda a moral ou a falsa política do "bom-cidadão". Se você sentiu escandalizado pelo título potencialmente ofensivo da postagem, saiba que eu realmente não ligo.

Enfim, estou escrevendo aqui, depois de tantas eras, pelo mesmo motivo de sempre: a vontade incontrolável de gritar bem alto. Eu tenho uma política de vida bem severa caracterizada fortemente pelo egocentrismo: eu faço o que eu quero, quando quero, como quero, e que se dane o resto. Pode parecer muito radical para você, mas pelo menos por enquanto essa política me provêm uma boa forma de subsistência baseada em auto-expressão e liberdade. E se tem algo que me enfurece é quando a tênue linha que define o meu estilo de vida é rompida por alguém alheio, alguém que se acha grande merda, alguém que acha que pode mandar na minha vida.

Pois bem, meu caro qualquer um que ainda ousa querer controlar como eu levo minha vida: VÁ SE FODER. Eu sinceramente, do fundo do meu coração petrificado, não dou a mínima se você se importa, se preocupa ou ainda finge se preocupar se eu estou ou não fazendo o certo. Não é apanhando que se aprende? Pois então, vá cuidar da sua vida, cale sua boca, guarde seus conselhos pra si quando eu não os pedir e me deixe. Me deixe voar. Se falharem as asas, quem vai cair um tombo sou eu, e não você. Quem vai se afogar em enganação e se foder lindamente no final, se tudo der errado, serei eu, e não você. Então pare de viver a minha vida, vá viver a sua, e deixe eu me matar com meu egoísmo e minhas peculiaridades.

Estamos conversados?

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

O lábaro que ostentas estrelado...



Estou aqui para falar de eleições. Sim, caros leitores, o clima de votação contagiou-me finalmente. Ou talvez seja simplesmente a necessidade de falar coisas que há muito estavam embargadas na minha garganta. Talvez eu não vá no final das contas falar tanto de eleições. Pode ser que eu acabe abrangendo todo o ramo político relativo a esse processo. Mas o fato é que aqui estou para desabafar.

Este ano vou votar pela primeira vez. De acordo com minha idade o voto é facultativo, mas sei da importância que é o ato do votar e também quero ter essa experiência, então, mesmo não precisando, depois de amanhã estarei lá, perante uma urna eletrônica pela primeira vez na vida. E o que espera-se de alguém jovem que decide entrar de cabeça na política? Ora essa, eu não sei. Fiz promessa a mim mesmo que acompanharia os debates, que leria as propostas dos candidatos e que eu iria procurar me informar ao máximo, vendo a propaganda eleitoral sempre que possível. Agora... Quanto disso eu cumpri? Nada, leitores. Nada. Me acomodei no sofá, na cadeira na frente do computador, em qualquer lugar. Fingi que sempre haveria um amanhã para eu buscar meu eu político que dorme tranquilo. Com que cara eu vou chegar lá domingo para votar sabendo que estou fazendo-o meramente por aprendizado, sem ter a consciência de que busco o melhor pelo meu país? Por que é que raios eu tenho que fechar os olhos para isso? Eu confesso aqui que tive vontade de ver a propaganda eleitoral, de ler propostas, de visitar as sedes dos partidos aqui na minha cidade. Mas não o fiz. Não fiz por um maldito conformismo que nos reduz à pária que cobre encanamentos velhos.

Como posso eu querer acompanhar a política, querer votar de verdade, como posso eu querer me entranhar nesse mundo se não vejo que vale a pena? Esse povo brasileiro, trabalhador, determinado, esse povo que anda buscando a forma mais cômoda de viver me ensinou que não vale a pena erguer a cabeça e lutar pelo que é certo. O povo me ensinou que o certo nem sempre é o que compensa no final. Mais vale ganhar um bolsa-qualquer-coisa no fim do mês do que lutar pelos direitos, pelos deveres. Parece que o povo se esqueceu do que é correr atrás da democracia. Vivemos um despotismo capitalista infeliz. Não, não estou brincando de manifesto comunista. Falo aqui daqueles que escolhemos para nos representar no poder e que fazem o que bem entendem, nem ligam para quem os colocou lá. Aproveitam para usurpar todo o dinheiro suado que pagamos, que sabemos que não dá em árvore. E nós sabemos que toda eleição será igual. Vamos os escolher, eles vão assumir e eles vão destruir ainda mais esse país. E o que nós fazemos em resposta? Fechamos os olhos, os ouvidos e a boca e fingimos que o mundinho cor-de-rosa em que vivemos é a melhor coisa do mundo. Fingimos que o dinheiro que paga as regalias desses infelizes não é o dinheiro que tiramos da conta de luz para pagar a de água.

Como posso eu querer lutar? Sim, leitores, eu quero ir à luta! Eu quero tirar essas malditos do poder, eu quero reformar essa politicagem suja, eu quero derrubar o Leviatã. Mas como? Como vou fazer minha voz ser ouvida se o silêncio dos demais abafa-a? Domingo eu vou ser mais uma marionete do sistema, e puramente porque eu não tive coragem, como eu sei que muita gente não tem, de erguer a cabeça e gritar por mudança. Eu vou votar em quem eu acredito que fará a diferença em meu nome. E eu sei que votarei em pessoas que não serão eleitas. Mas eu preciso aqui confessar a todos vocês o poder opulento inenarrável que eu terei quando fizer isso. Votarei em que não tem chances de vencer, e o farei de consciência tranquila porque sei que, mesmo não valendo, meu voto terá sido bem empregado. Saberei que segui minhas ideologias e que fiz minha parte contra essa merda que está cagada na nossa capital nacional. Como seria bom se todos fizessem isso, se todos votassem em quem é certo, e não em quem invariavelmente irá ganhar. O jogo todo podia ser revertido.

Como posso eu me orgulhar do país em que vivo se não é ele, mas a sociedade que nele vive que me envergonha tanto? Somos uns acomodados, uns covardes que há muito esqueceram do que é correr atrás. Eu sei que já disse isso e repito de novo e de novo e de novo! Somos acomodados! Podemos xingar o quanto quisermos esse governo que não está nem aí pra nós, mas o que nós fazemos de concreto contra eles? NADA! ABSOLUTAMENTE NADA! Adiantará lotar as ruas, pintar a cara e votar certo? Talvez não, mas como podemos saber se não tentamos?! Eu não quero ser só mais um na massa. Eu farei minha parte. O tempo ainda não acabou, ainda dá pra pesquisar sobre os candidatos e fazer uma escolha correta. E sempre dará para lutar pelo que ajuda a todos nós e não só o meu bolso no final das contas. Vamos à luta, Brasil, vamos! Vamos fazer o que é certo. Vamos honrar o lábaro que ostentamos, o lábaro estrelado que trepida pelas cidades e que há muito esquecemos de louvar. Não deixemos que se apague o verde-louro daquela flâmula. Não temamos à própria morte.

Lutemos por esta terra. Lutemos pela mãe gentil. Lutemos pelo Brasil.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

O Manteiga

Chamo-o de Manteiga. O nome louco remete a uma insensata escolha de materiais alimentícios na geladeira aqui de casa e não interessa para o teor desse texto. Só fiz essa citação por mera questão de explanação superficial. Não fiquei maluco, tomem nota. Mas de qualquer forma talvez seja uma escolha insólita para nomear alguém. O fato é que pegou, não consigo chamá-lo de outra forma. Eu até tento, juro; mas parece que o Manteiga quer mesmo assim ser chamado. Pensando superficialmente, até que combina com a personalidade dele: escorregadio com as palavras e o assuntos, sempre dando um jeito de estar por cima. Isso sem falar na desagradável capacidade dele de sempre fritar os outros com seus argumentos infelizes. Ah, perdão leitor, caí em devaneio. Deve estar se perguntando de quem falo.

Falo do outro eu. Falo de meu adorado alter-ego. Sim, tenho um. Não é birra, frescura, mania de achar coisas estranhas em mim ou de jogar a culpa das merdas que falo e escrevo em cima de algo imaginário. Ele é fato. Ele existe. E eu (in)felizmente não tenho controle sobre ele. Ele surgiu assim quieto, sem avisar, com poucas pretensões. Surgiu da minha necessidade de responder certas injúrias nesse universo virtual, e logo tornou-se uma parte diferente de mim mesmo. Ás vezes eu sou eu, ás vezes eu sou ele. Não é uma dupla-personalidade, no entanto. Tenho plena ciência de quando ele aflora. E, enfim... Ele surgiu dentro da minha cabeça e surge, de vez em quando, para me auxiliar com o mundo das letras e do pensamento. E para agradecer-lhe esses mais ou menos três anos de existência, escrevo esse texto.

Bom, o Manteiga é como já disse: escorregadio. Você dificilmente irá conseguir pegá-lo com um jogo de palavras ou com alguma pegadinha. Pode até conseguir, mas ele jamais admitirá. É um orgulhoso, um teimoso. Não que seja arrogante (ou talvez seja), mas detesta estar por baixo. Sempre espere dele uma resposta afiada, cortante, e até quase sempre ultrajante. Mas não precisa munir-se de armas vocais para conversar com ele: é até certo ponto receptivo, quando lhe convém. E não é de todo o mau: é até certo ponto voluntarioso, diligente, sempre disposto a começar coisas novas e conhecer gente nova.

É inteligente, de certo. Sabe relacionar conceitos como ninguém. Assimila com facilidade de tudo um pouco e sabe transmitir isso muito bem. Se preciso de informação, sei a quem recorrer. Ele é sério, entretanto. Não gosta de piadinhas, acha-as zombeteiras. Costuma responder implacavelmente ao humor. Não gosto disso nele, mas não posso controlá-lo. Hm, bem, esses são os traços da personalidade sisuda dele. Com certeza deve estar o odiando nessa altura do texto, mas é normal. Ele é odioso por natureza. Talvez tenha decidido surgir aqui na minha cabeça para não perturbar muito. Mas enfim...

Redijo esse texto simplesmente para dizer isso. Quase sempre quando estou escrevendo os meus textos e colocando essas palavras, expressões, comparações e neologismos que não fazem sentido é porque estou com o Manteiga no topo da cabeça, ditando o texto. E se, no final das contas, quem escreve as minhas postagens é ele, então obviamente quem digita essa aqui também é ele. O que basicamente significa que ele está escrevendo sobre ele mesmo!

Vejam só. Além de tudo ainda é egocêntrico.