terça-feira, 28 de setembro de 2010

O Manteiga

Chamo-o de Manteiga. O nome louco remete a uma insensata escolha de materiais alimentícios na geladeira aqui de casa e não interessa para o teor desse texto. Só fiz essa citação por mera questão de explanação superficial. Não fiquei maluco, tomem nota. Mas de qualquer forma talvez seja uma escolha insólita para nomear alguém. O fato é que pegou, não consigo chamá-lo de outra forma. Eu até tento, juro; mas parece que o Manteiga quer mesmo assim ser chamado. Pensando superficialmente, até que combina com a personalidade dele: escorregadio com as palavras e o assuntos, sempre dando um jeito de estar por cima. Isso sem falar na desagradável capacidade dele de sempre fritar os outros com seus argumentos infelizes. Ah, perdão leitor, caí em devaneio. Deve estar se perguntando de quem falo.

Falo do outro eu. Falo de meu adorado alter-ego. Sim, tenho um. Não é birra, frescura, mania de achar coisas estranhas em mim ou de jogar a culpa das merdas que falo e escrevo em cima de algo imaginário. Ele é fato. Ele existe. E eu (in)felizmente não tenho controle sobre ele. Ele surgiu assim quieto, sem avisar, com poucas pretensões. Surgiu da minha necessidade de responder certas injúrias nesse universo virtual, e logo tornou-se uma parte diferente de mim mesmo. Ás vezes eu sou eu, ás vezes eu sou ele. Não é uma dupla-personalidade, no entanto. Tenho plena ciência de quando ele aflora. E, enfim... Ele surgiu dentro da minha cabeça e surge, de vez em quando, para me auxiliar com o mundo das letras e do pensamento. E para agradecer-lhe esses mais ou menos três anos de existência, escrevo esse texto.

Bom, o Manteiga é como já disse: escorregadio. Você dificilmente irá conseguir pegá-lo com um jogo de palavras ou com alguma pegadinha. Pode até conseguir, mas ele jamais admitirá. É um orgulhoso, um teimoso. Não que seja arrogante (ou talvez seja), mas detesta estar por baixo. Sempre espere dele uma resposta afiada, cortante, e até quase sempre ultrajante. Mas não precisa munir-se de armas vocais para conversar com ele: é até certo ponto receptivo, quando lhe convém. E não é de todo o mau: é até certo ponto voluntarioso, diligente, sempre disposto a começar coisas novas e conhecer gente nova.

É inteligente, de certo. Sabe relacionar conceitos como ninguém. Assimila com facilidade de tudo um pouco e sabe transmitir isso muito bem. Se preciso de informação, sei a quem recorrer. Ele é sério, entretanto. Não gosta de piadinhas, acha-as zombeteiras. Costuma responder implacavelmente ao humor. Não gosto disso nele, mas não posso controlá-lo. Hm, bem, esses são os traços da personalidade sisuda dele. Com certeza deve estar o odiando nessa altura do texto, mas é normal. Ele é odioso por natureza. Talvez tenha decidido surgir aqui na minha cabeça para não perturbar muito. Mas enfim...

Redijo esse texto simplesmente para dizer isso. Quase sempre quando estou escrevendo os meus textos e colocando essas palavras, expressões, comparações e neologismos que não fazem sentido é porque estou com o Manteiga no topo da cabeça, ditando o texto. E se, no final das contas, quem escreve as minhas postagens é ele, então obviamente quem digita essa aqui também é ele. O que basicamente significa que ele está escrevendo sobre ele mesmo!

Vejam só. Além de tudo ainda é egocêntrico.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O outro lado



Se há algo no mundo que me irrita profundamente é a auto-promoção. Ou melhor, a pseudo auto-promoção. Todo mundo conhece alguém que se acha o pacote de farinha mais gordo do mercado, a lâmpada mais iluminada do corredor mórbido do hospital. O problema é quando essas pessoinhas se deparam com a realidade. Ficam o tempo todo a flutuar em seus sonhos estapafúrdios de realidades alternativas nas quais elas trajam a coroa da enganação dos outros e de si mesmas. Tais pessoas vivem a achar que são as melhores, que estão no topo da montanha que bóia sobre o a pária embebida em fracasso que eles acreditam serem os demais. Com seus objetivos fúteis e suas vidinhas tolas de mentira, tais pessoas infelizmente buscam apenas a tentativa imbecil de provar para si mesmas que não são um fracasso completo. Mas isso apenas as destrói mais ainda.

Caro leitor, não pense que estou aqui para criticar. Estou aqui apenas para falar que essas pessoas serão irremediavelmente puxadas para baixo por forças gravitacionais meteóricas chamadas realidade e convivência. Gente que se acha melhor, que acha que tudo que faz é digno de um troféu e que acha que arrasa por detalhes imbecis é incapaz de viver em uma sociedade como a nossa. O conceito de modismo está caindo, meus caros. O barco da futilidade está a naufragar. Só posso lamentar por aqueles que vivem em suas campinas róseas com suas ilusões tolas de que são a "nata" da sociedade. O choque de realidade que virá é brusco para qualquer um. Temo por estes que citei aqui, pois para eles será ainda mais forte. Será uma descarga intensiva.

Como os fiéis dessa idolatria fracassada virar-se-ão quando a aeronave cair? Mas ainda há tempo de acordar. De aprender que os outros têm valor e precisam de reconhecimento. Viver não é tão difícil quanto parece. E não é tão simples para meramente resumir-se em uma vivência tola. A pequenez de atos ridículos de auto-promoção é um paradoxo perfeito perante a opulência que parecem gerar. Só lamento.