quinta-feira, 4 de outubro de 2012

"Um" não é um numeral válido

Segundo o moderníssimo dicionário de expressões populares, "solteiro" virou um sinônimo para "ser humano triste, com auto-estima baixa, incapaz de exercer quaisquer funções consideradas verdadeiramente humanas". É fascinante como as pessoas enfiaram nas suas cabeças que uma pessoa sozinha é uma espécie de entidade que sofre de algum vírus doentio e terrivelmente infeccioso que precisa ser combatido a todas as custas. A sociedade contemporânea adicionou ao seu padrão de normalidade aceitável o termo "em um relacionamento sério", que muitas vezes, convenhamos, de sério só tem o nome. O fato é que não é de ontem que se nota uma crescente onda de relacionamentos, detectável com maior notoriedade nas redes sociais. Pois, afinal de contas, mudar um status de relacionamento e postar um milhão de fotos com sua "alma gêmea" é tão fundamental quanto tomar o café da manhã ou puxar ar para os pulmões. Pelo menos para muita gente, é assim que funciona. Não me entendam mal. Não estou condenando os namorados. Já falei uma vez sobre a banalização do amor aqui, e agora volto a tocar no assunto. Acho admiráveis os casais que se encontram pelo acaso e vivem uma rotina de apaixonados por anos. Conheço alguns (e só alguns!) exemplos bem-sucedidos de casais que combinam tanto um com o outro que chega a ser quase incabível vê-los separados. Um encontro desses deveria, em tese, ser celebrado aos ventos com chuvas de fotos e declarações melosas no Facebook da vida, right? Wrong. Os casais que uso de exemplo aqui raramente são vistos com estas "pieguices". E, na opinião deste solteirão rancoroso, a única explicação é que o amor não precisa que você esfregue na cara dos seus 367 amigos que você anda pegando alguém. Claro, tem gente que realmente gosta desse tipo de coisa. Mas sabemos que não é assim que a coisa funciona. A necessidade das pessoas de divulgar ao vento que estão em um relacionamento, a "melosidade" dos relacionamentos e o excesso de um pseudo-romantismo exacerbado e extremamente forçado me levam a crer que vivemos em um mundo aonde não é mais válido estar sozinho, na sua. Nem os solteiros escapam disso. Todo mundo tem aquela amiga solteira que adora sair por aí pra distribuir saliva por uns quatro homens diferentes. Na mesma noite, evidentemente. Não me cabe julgar, mas eu simplesmente não consigo ficar quieto perante uma situação dessas. Será que o sozinho é realmente uma escória da sociedade? Por que a ampla maioria da sociedade tem uma necessidade patológica de estar em um constante relacionamento sem amor? É provável que isto seja um desabafo melodramático de um sentimental não conformado com o andamento da sua vida amorosa. Mas temo que não. Apesar de solteiro, ainda consigo raciocinar. (Embora muita gente acredite que seja surpreendente o fato de que, nessa condição, eu ainda encontre motivos pra tocar a vida).

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